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Outros - Poesia



MEMÓRIA DO FOGO

a noite traz sempre
a alegria da memória.
em tantas te beijei.
eras tu, eu e ela.
nos caminhos do mar,
nas areias.
lembras-te?

lembro que
a tua língua
era a pele ligeira
de um pêssego
e que os teus lábios
eram a provocação das rosas:
o nosso infinito é agora,
dia e noite e dia.



eu não quero amar-te
mais do que te amo
ou menos do que te amo
quero amar-te como te amo

como o dia e o sol
como um grito no sangue
uma fogueira na pele
ou um gemido da alma

amo-te
como se fosses noite
e eu estrela acesa no teu ventre

amo-te
entre os murmúrios
e as mãos



SAUDADE

nunca estou sozinho quando estou sozinho

apesar da madrugada ser sombra e névoa
sempre a memória da voz me acompanha
mas há sempre uma faca nas minhas pernas
ou uma lua ferida que me entra pelos olhos



nunca me canso de procurar um verbo de fogo
capaz de incendiar o teu sangue;
a palavra com dedos de água
capaz de te percorrer e despir:
nem que infinito nos separe ou eu tenha que correr pelos mil cantos do universo, não vou desistir de procurar aquela palavra com a chave do mundo.
nenhuma sombra.
nenhuma pedra.
nada poderá esconder-ma. nem que não venha em dicionários.

talvez esteja escondida entre a espuma e o vermelho.
talvez seja de vidro ou transparente. não importa.



da lentidão e precisão dos violinos
emerge a imagem parada
e o sangue acelera
com a memória que
o corpo tem do corpo
e a língua do fogo na língua

a imagem é só imagem
e mesmo assim recorda
a silhueta do amor
e a pele
recorda que são lunares
as flores de cabelo
que são solares o toque
e os lábios



deixa que os meus olhos escorram na tua pele
como se fossem uma palavra em busca do verso
nos poemas que em mim escreves com a nudez

deixa que as nossas línguas lutem tresloucadas
como uma explosão de animais loucos e selvagens
nas pautas mágicas que se enchem com a tua voz

regresso à fragilidade e ao fogo da tua pele
como se o infinito fosse a brevidade do fumo

volto à forma que tinhas ao luar
como se o vento fosse e ficasse



ardes no meu sangue sempre
que faço comprimido das palavras
e sempre as chamas roçam a memória
se tens asas

é porque da tua alma desponta a transparência
ou o vitrificável fulgor
com que me consome o teu fogo durante o silêncio
é porque o teu sorriso vibra como adolescentes

chegas e com o coral que te cresce nos dedos
desenhas-me o sossego no peito

cruzaste a vida e o mar
com a urgência esdrúxula das marés

talvez sejas só um pássaro marítimo
e talvez venhas só de um rumor longínquo
O que acha disto?